sábado, 4 de julho de 2009

UM MINUTO PARA O FINAL

Vencedor do Festival do Minuto de 2009, Maurício Lídio fala sobre a produção do curta-metragem “Bárbara”, o terceiro vídeo mais exibido no Youtube Brasil em junho, onde Barbie é a protagonista.


Ideias - uma Barbie da irmã - e o apoio da família. Assim, Maurício Lídio tem dado um passo de cada vez rumo ao reconhecimento. Abordando, sem medo, assuntos delicados, ele sonha ser um renomado diretor de cinema. Vencedor do Festival do Minuto e do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, com o Troféu Grande Otelo de melhor filme de celular, pelo curta-metragem de animação “Bárbara”, o estudante de 20 anos conta para os leitores deste blog sobre seus prêmios, seus projetos e seus sonhos.




Tudo tem história! - Este é seu primeiro filme?
Maurício Lídio - Não. Na verdade já fiz alguns vídeos amadores e os coloco no YouTube (www.youtube.com/mauriciolidio). Com um deles até ganhei um prêmio antes de “Bárbara” e poucos sabem disso. Fiquei em segundo lugar no 1º Concurso de vídeos amadores da Aliança de Controle ao Tabagismo (ACTBR-SP), com a animação “Tu Fumas, Eu Morro”. Também fiz um curta-metragem para uma disciplina da faculdade (“Estocolmo?”) no qual roteirizei e dirigi. Minha irmã é a atriz principal (risos). Mais recentemente trabalhei somente como câmera no documentário de um professor da faculdade “Ibiúna 68: O Que a História Não Conta”, sobre o congresso da UNE de 1968.

Como foi o processo de filmagem? Quanto tempo foi gasto na produção de “Bárbara”?
O processo de filmagem foi bem simples, eu nem cheguei a pôr o roteiro no papel, tinha a idéia na minha cabeça e estava pronto para gravar. Minha irmã (mais uma vez) de 16 anos possui uma coleção de Barbies e me ajudou a montar o cenário. O cenário é o mesmo em todas as cenas, só os movimentava para parecer que eram outros cômodos da casa, tinha a cozinha e a sala. Dei maior atenção à iluminação e à composição da cena em si, pois o maior desafio era fazer com que minha mão, que manipulava a boneca, não aparecesse. E percebi que muitos elogios da crítica ao vídeo foram direcionados à direção de arte. A gravação durou uma tarde inteira. Filmei cerca de três minutos (o que era muito para quem queria chegar a um minuto). No processo de edição cortei aqui e ali, até chegar no tempo ideal. Então escolhi uma música de domínio público, do grande Beethoveen, e foi!

De onde surgiu a ideia do suicídio da Barbie?
Eu já queria fazer algo que não precisasse de atores de carne e osso, pois não tinha tempo e não sei se haveria interessados em trabalhar de graça nisso, então pensei em fazer uma espécie de animação com manipulação de bonecos. Pesquisando, descobri que a Barbie fazia 50 anos esse ano, então decidi que seria com ela. O problema era: o que fazer com a Barbie? Como sempre achei que ela representava um padrão de beleza e nela está a imagem da futilidade, decidi que queria matá-la, ou melhor, faria ela se matar.

Por que abordar este assunto?
Acho que essa influência mórbida com comédia veio dos filmes de Tim Burton, do qual sou fã. Pensei que poderia brincar com essa história dos 50 anos. Pensei: "Se a Barbie fosse real, como ela estaria se sentindo ao completar 50 anos? Será que as plásticas seriam suficientes?". Então fiz o vídeo criticando esse "star system" americano e o "american way of life". O Michael é um exemplo recente de tudo isso.

Você esperava ganhar este prêmio? O que você ganhou?
Eu fiz o vídeo especialmente para o Grande Prêmio Vivo do Cinema Brasileiro, que acontece há sete anos. Vários sucessos do cinema brasileiro já ganharam este prêmio, como “Cidade de Deus”. Porém, essa categoria só entrou a partir do patrocínio da empresa Vivo no ano passado. Achei uma grande ação dar oportunidade de reconhecimento para essas novas mídias que estão dominando o mercado, como o filme de celular. Voltando ao caso, tinha esperanças de ganhar, mas foi uma grande surpresa quando me ligaram dizendo que eu era finalista, e que iria para o Rio de Janeiro dali a 24 horas. Eu ganhei o Troféu Grande Otelo na categoria de melhor filme de celular, é o mesmo troféu que todos ganham, “Meu Nome Não é Johnny” e “Ensaio Sobre a Cegueira”. Além de também ganhar a passagem e a hospedagem com acompanhante no mesmo hotel em que ficaram os outros indicados, como Alice Braga e Fernando Meirelles (aos quais tive a oportunidade de conhecer).



Qual a repercussão na mídia?
A repercussão foi maravilhosa, jamais imaginaria que eu sairia nos jornais de maior circulação da Bahia, como o “A Tarde”, pois apareci na revista “Muito” que é parte integrante deste jornal. Também teve o “Correio”, com uma entrevista e uma foto com Fernando Meirelles. Também saí ao lado da Fernanda de Freitas na revista Caras. Foi ela quem me entregou o prêmio. Tomei um susto quando me vi na Caras, além de outros sites! Para você ter uma idéia, quando eu estava fazendo a clippagem dos materiais, achei aproximadamente uns 90 sites com entrevistas ou citações ao vídeo. A Vivo também me deu destaque no Vivo Blog. Outro dia estava rindo porque percebi que eu havia ganhado fama criticando a fama (risos).

Você teve medo da repercussão em relação ao tema?
Confesso que fiquei com medo da Academia Brasileira de Cinema achar um pouco trágico demais. Mas, fora isso, não senti medo. Sei que suicídio é um tema polêmico e que viriam muitas críticas negativas também. Muitas mulheres na faixa dos 50 me criticaram achando que eu quis passar a idéia de que toda mulher nos 50 deve se matar, quando jamais pensei nisso, até porque minha mãe daqui a uns anos faz 50 e não gostaria que ela se matasse. Já outras souberam tirar o lado cômico do microfilme e riram. As interpretações são múltiplas e não tenho como controlar isso, tenho apenas que saber receber as críticas. Concordar com elas já é outra história.

E com os amigos e a família? Eles esperavam que você fosse ganhar o prêmio com um assunto tão delicado, que é o suicídio?
Na verdade eles nem sabiam (risos). Quando liguei para alguns colegas para dizer que havia sido escolhido para a final eles disseram: "Como assim? Você não falou nada pra gente". Minha família sabia e me deu a maior força. Todos ficaram muito felizes, minha mãe nem se fala. Alguns acharam que era brincadeira no início. O tema foi levado pela brincadeira mesmo. Na volta, fui recebido com uma homenagem dos meus colegas da Produtora Júnior, empresa júnior de comunicação onde trabalhei por um ano na área de Projetos Culturais. Tinha um mural lá escrito "Maurício Lídio é o Vencedor do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro". Fiquei muito feliz. O pessoal da faculdade me recebeu com carinho, pois em uma Faculdade de Comunicação sempre há muitos aficionados por cinema.

“Bárbara” concorreu a outros prêmios?
Um mês depois da premiação, soube do Festival do Minuto, que já conhecia e que acontece há 10 anos, e abrangendo 30 cidades do Brasil, além de outros países. Decidi inscrever “Bárbara” para ver no que dava. E não deu outra: foi o vencedor do mês de maio como melhor vídeo das 30 cidades em que o Festival acontece e recebeu críticas de críticos de todas essas cidades, muito boas por sinal. Nesse, finalmente entrou uma graninha (risos). Ganhei o Troféu do Minuto e um valor simbólico de R$ 500,00. Agora inscrevi o vídeo no CineEsquemaNovo, um festival que aceita todas as mídias.

Pretende fazer outros filmes?
Pretendo fazer muitos filmes, pois aos 14 anos decidi que queria ser Diretor de Cinema e nada tira isso da minha cabeça até hoje. Tentei entrar em uma Faculdade de Cinema, mas aqui em Salvador só existe uma que é paga (muito cara, por sinal), então passei para a Federal da Bahia para fazer um curso muito próximo, Comunicação com Produção Cultural. Gosto muito do curso, ele só existe aqui na Bahia e no Rio de Janeiro.

O que é o cinema pra você?
Não gosto muito de classificar os filmes em cinema ou não cinema. Brigo muito com pessoas que dizem: "filmes Blockbusters não são cinema, cinema tem que ser de arte". Cinema de arte, cinema de autor, acho esses conceitos bem delicados. Prefiro acreditar que cinema é algo que nos leva a sonhar acordados, é quando o homem tem o controle de tudo, brinca de ser Deus e cria realidades.



Ping-pong!

Cinema: minha vida
Um filme: um francês que vi recentemente e que me impressionou: “Cançoes de Amor”
Um diretor: Fernando Meirelles
Brinquedo: é passado, prefiro games
Mulher: indispensável
Espelho: irrelevante
A morte: um mistério
Suicídio: fraqueza
Caos: política
Ordem: ideal
Beleza: está nos olhos de quem vê
Sucesso: uma ilusão saborosa
Sonho: ser um Diretor de Cinema renomado
Pesadelo: não realizar meus sonhos
Futuro: brilhante
Saudade: de ser criança, de não ter preocupações na cabeça
Amor: o oxigênio da vida
Pessimismo: não existe no meu dicionário
Esperança: só morre se for fraca



Maurício Lídio ao lado de Fernando Meirelles



AGORA, VEJA VOCÊ!



“Tu Fumas, Eu Morro”
http://www.youtube.com/watch?v=B_jltr57OFM



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