domingo, 26 de julho de 2009


Reconhecimento... tocaia... e bote!

Segundo romance de Alexandre Heredia, “Predadores”, está disponível pelo selo Spectrum da Editora Multifoco

Se ele não fosse ateu, eu o chamaria de amigo de fé. Cético, do tipo que encara a vida como ela é, Alexandre Heredia é escritor, Analista de Sistemas e vice-versa. Eu poderia escrever sobre ele por infinitas linhas, mas preferi deixar que ele mesmo falasse sobre sua vida e suas obras. Deleite-se com as palavras deste escritor sem meias palavras!

Alexandre Heredia - Como a literatura entrou em sua vida? Foi uma escolha tranquila?
Tudo tem história - Sou um daqueles que já lia antes de aprender a ler, sabe? Não me recordo de muita coisa de minha infância, mas lembro exatamente a primeira frase que li: "E aí, Zé?", em um gibi da Mônica, que só consegui ler depois de perguntar ao meu pai todas as letras. Isso foi antes mesmo de entrar no pré-primário. Quando comecei as aulas já sabia ler e escrever o básico. Meu pai me levava todo sábado no Barateiro perto de casa e me comprava um gibi. Eu sempre escolhia aqueles "Disney Especial", que vinham com 268 páginas, só para poder ler mais até a próxima visita à banca. Esse hábito nunca me abandonou. Tenho centenas de gibis em casa até hoje. Daí para os livros foi bem rápido. O primeiro livro que lembro de ter lido foi "Fernão Capelo Gaivota", do Richard Bach. Esse livro me mostrou que dá para fazer uma história bonita, envolvente, e sem quadrinhos! Minha mãe sempre me disse que economizaria em tudo, menos em livros, então sempre tive acesso fácil à literatura em casa. Quando eu tinha 14 anos ela abriu uma locadora de livros e me colocou pra trabalhar lá. E meu trabalho era exatamente ler o máximo de livros que eu pudesse para recomendar aos clientes. Li muito naquela época, e de tudo. De Sidney Sheldon a Phillip Roth. Foram 4 anos fazendo isso. Mas nunca tinha pensado em escrever nada até o dia que redigi, motivado por um pé na bunda que levei de uma namorada, uma carta fictícia de suicídio (meu raciocínio era o de projetar a minha dor para outra pessoa, e assim me dissociar dela). A carta foi lida pela mãe de uma amiga, que trabalhava no CVV, e ela chorou, emocionada. Percebi então que eu conseguia emocionar pessoas do mesmo jeito que eu me emocionava ao ler um bom texto e comecei a me focar não só na leitura, mas também na criação. A literatura é algo que sempre levei em minha vida, então nunca a considerei uma escolha. Não consigo me imaginar longe dela.
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Qual o perfil dos seus leitores de blogs ou de livros? São os mesmos?
Há uma zona de intersecção, mas são públicos bem diferentes. Em meus livros, graças às demandas de mercado e das oportunidades que surgiram, os textos tendem para o terror ou o suspense. Já em meus blogs eu costumo experimentar mais. Sendo eu meu próprio editor tenho liberdade de escrever em um mesmo espaço um texto cômico, um trágico, um escatológico, um erótico, um poético ou mesmo um didático, sem me preocupar. Sendo assim, quem lê meus blogs parece ter uma mente mais aberta a estilos diferentes de literatura.
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Você tem se afastado do "rótulo" de escritor que escreve sobre vampiros. Como você tem explorado as buscas de novos temas e personagens?
O rótulo "escritor de vampiros" me persegue um pouco sim, mesmo eu só tendo lançado um livro com a temática "vampiresca" (odeio essa palavra). E eu tento fugir desse rótulo simplesmente pelo fato que eu não aguento mais ver essa "nova geração" de autores simplesmente atolando nesse tema. Gosto de ler e escrever terror, daqueles que arrepiam a alma do leitor, mas tudo o que leio são romances melosos de vampiros bonitos com crises existenciais, então tento evitar cair nessa fossa. Ando numa fase de busca por temas diferentes. Sair um pouco desse calabouço que o fandom de literatura fantástica se enfiou. Abrir a janela, saca? Dá pra escrever um texto aterrorizante só com temas cotidianos. Ou uma crônica folhetinesca com arquétipos surrados. Ou uma alegoria social com monstros mitológicos. Tem tanta coisa diferente a ser narrada nesse mundo, então por que ficar preso numa figura imortal, sedutora e, mesmo assim, chorona e cheia de neuras? Eu ando mais pé no chão. Procuro histórias passadas na nossa realidade, de modo a extrapolá-las e transformá-las não em um texto "fantástico", mas em uma fantástica leitura e experiência para algum leitor por aí.

Liz Vamp. ALexandre Heredia e Zé do Caixão

Seus textos são bem descritivos (o que me faz lembrar dos textos de G. Flaubert). Você considera isso parte do seu sucesso como escritor?
Bom, como muitos de minha geração, fui influenciado pelo cinema e pelos quadrinhos, onde a imagem é mais importante que o texto em si. Então sempre que imagino alguma passagem em meu texto, eu a imagino como num filme, e depois simplesmente a traduzo. Mesmo assim tento mesclar as descrições de maneira orgânica à trama, pois a ambientação é parte essencial para a fluidez e ritmo narrativo. Meus textos, mesmo às vezes tocando em temas considerados pouco palatáveis, ainda assim mantém o leitor interessado e dentro da história. Estamos lidando hoje em dia com leitores ávidos, mas com diversas opções distratoras a toda volta. Manter o leitor preso ao seu texto é um grande desafio. Tem que saber pesar as descrições. Se você acha meu texto bem descritivo, precisa ver as primeiras versões deles. São leituras, releituras, cortes e adaptações infindáveis antes de chegar no ponto que considero que as descrições estejam bem balanceadas e sem prejudicar o andamento da trama.
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O que diferencia um bom escritor de um escritor medíocre?
Basicamente a honestidade. Qualquer um consegue aprender a escrever corretamente se tiver vontade e se esforce para tanto. Se você ler bastante chegará uma hora que você conseguirá até mesmo imitar perfeitamente estilos de autores consagrados. Saber a técnica é importantíssimo, mas um escritor puramente técnico é um escritor medíocre. É um músico que só toca pela partitura. Ele só se tornará um verdadeiro artista quando conseguir, usando ou deturpando essas técnicas, tocar o leitor, fazer alguma diferença. A leitura de um bom texto é epifânica. Sacode o leitor, tira-o de sua zona de conforto. Causa. Faz pensar, cogitar, imaginar. E um escritor só consegue isso quando é honesto consigo mesmo, deixando os temas e as histórias fluírem sem medo ou autocensura.
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Como nasceu a inspiração para o livro “Predadores”?
A vontade de escrevê-lo veio por causa de um filme horroroso de vampiros que assisti ("Vampiros do Deserto", ou algo assim). Eu já tinha escrito alguns contos na época e decidi que eu conseguiria escrever uma história longa de suspense melhor que aquela porcaria. Dessa noite até o dia em que sentei e comecei a escrever foram vários meses de planejamento e pesquisa. Eu queria uma história verossímil, plausível, mas que ao mesmo tempo criticasse essa literatura dos "vampiros eróticos", brincando com os arquétipos e subvertendo temas batidos. Por exemplo, o formato que escolhi, com capítulos "subjetivos" de cada personagem intercalados, é uma brincadeira com o formato baseado em diários de Drácula, de Bram Stoker. Já o fato de dividir o livro em três partes foi uma maneira de subverter a "estrutura de três atos", de Syd Field, trocando o tradicional "apresentação-confrontação-resolução" por "reconhecimento-tocaia-bote", que é a tríade do ataque de um predador. Então tentei fazer um livro de suspense linear, mas com pitadas de ironia em toda a história, que só quem ler atentamente irá perceber, mas mesmo assim interessante para o leitor casual.
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Como tem sido o retorno da publicação entre leitores? E entre os próprios escritores?
Graças a essa minha tendência em deturpar conceitos estabelecidos, sou recebido certas vezes com algum receio. Normalmente meus leitores ou amam ou odeiam o que eu escrevo, o que sempre considero um bom retorno. A arte deve causar alguma reação ao receptor. É obrigação de todo escritor tirar o leitor de sua zona de conforto, sacudir suas fundações, fazê-lo pensar. É esse meu principal objetivo quando escrevo. Graças a essa postura, angariei um certo respeito de meus pares, mesmo esse respeito não se refletindo em termos de popularidade. Mas mantenho um canal aberto constantemente com meus leitores, seja por e-mail, MSN, Orkut ou Twitter, e normalmente quem me procura não o faz para me xingar (risos). Já recebi elogios rasgados à minha produção, mas também críticas fervorosas. Gosto muito dessa troca.
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E por que o nome “Predadores”?
Na verdade sempre gostei de inverter expectativas, e esse título serviu exatamente para isso. O livro tem apenas um "vilão", então quem seriam estes "predadores"? A história é narrada a partir do ponto de vista de três personagens distintos, que não se conhecem inicialmente mas tem suas vidas entrelaçadas pela participação direta ou indireta de Radu (o tal "vilão"). Quando são confrontados com uma realidade que não estão habituados, cada um reage à sua maneira, mas sempre guiados pelo instinto de sobrevivência e de ganância, tão inerentes aos seres humanos. Sendo assim, no final das contas, todos nós somos predadores, variando apenas em objetivos e métodos. Todos achamos que os fins justificam os meios. É essencialmente a queda desta hipocrisia que o livro trata. Quem é o vilão? Quem mata porque precisa sobreviver ou quem se omite da família em nome de um tesão repentino? E por que isso nos torna vilões? Tento trazer essa reflexão em meu texto.
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O olho na capa do livro... quem fez a capa? Por que o olho?
O olho é uma característica física marcante em Radu pois, graças à sua doença, sua íris é esbranquiçada. De todas as características incomuns nele, são os olhos que mais chamam a atenção, então achei coerente colocar um na capa do livro. Mas, se você perceber, é um olho feminino. Fiz questão disso também, pois acentua a contradição que permeia toda a obra. E eu queria muito fugir da estética padrão das capas de livros de suspense, pois essa foi uma das motivações mais fortes que tive ao escrevê-lo. Evitei usar fundos negros, letras vermelhas, borrifos de sangue, essas coisas. Eu queria uma foto de um olho e só, como se o próprio livro estivesse à espreita de leitores (risos). A produção ficou a cargo da editora. Eu só aprovei o resultado final. Mas fui bem chato. Acho que descartei umas oito ou nove versões antes dessa.Dos personagens deste livro, qual você desenvolveu com mais entusiasmo? Por quê?Todo personagem é um reflexo do próprio autor. Isso não é novidade nenhuma. Cada um dos três protagonistas pode ser analisado como um reflexo distorcido de mim mesmo em certo momento. Ian é um pai de família frustrado com os rumos que sua vida tomou. Eva é fútil e superficial, mas no fundo é uma romântica incurável. Mas o personagem que mais me identifico é Dante. Gosto de sua postura de cético inconformado, que quer acreditar, mas não consegue, já que os fatos não corroboram suas crenças. Ele é racional, mas quando necessário é passional e impulsivo, mesmo que isso por vezes lhe cause mais problemas do que soluções. Sou muito assim, e narrar suas desventuras era bastante fácil. Mas se fosse para escolher o personagem que considero mais fascinante na história, escolheria Radu sem pensar duas vezes. Enquanto os outros personagens são um reflexo, Radu é uma projeção.
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Tem saudade de escrever no blog “O Psicopata Enrustido”? Seus leitores pedem a volta dele?
Não, não tenho saudades. O blog do Psicopata Enrustido foi importantíssimo em minha vida. Criei-o numa época em que não podia falar o que eu escrevia ali. Era libertador, terapêutico. Era honesto, acima de tudo, mesmo sendo fictício. Só que a vida muda, as pessoas mudam, eu mudei. De repente percebi que não precisava mais daquilo. Que perdeu o sentido. E a honestidade. Fiquei alguns meses desfribilando a produção lá até que percebi que o mais honrado para o personagem seria simplesmente sair de cena. Escrevi seu "epitáfio" e nunca mais redigi uma linha sequer com ele. Não sinto falta. Era hora de mudar de assunto. É um personagem que amo e a quem sou muito grato, mas que já ficou no passado. Nos primeiros meses recebi um monte de mensagens de leitores pedindo para eu voltar a escrever no blog, mas todos foram bastante compreensivos quando expliquei meus motivos. É melhor parar antes que o personagem se torne uma autoparódia, e tudo o que eu não queria é que ele tivesse esse destino. Mas até hoje é um de meus blogs mais visitados, e tem muita gente que o descobre todos os dias. Isso me deixa feliz, pois mesmo ele já não refletindo minha voz continua inspirando leitores. De vez em quando tenho vontade de fazer uma compilação com os melhores textos e publicar, mas até agora só ficou na idéia.
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Quais seus os blogs preferidos? Ou agora prefere o Twitter?
Sempre fui da opinião que o que importa é a mensagem, não o meio. Sou leitor voraz. Leio de tudo, independente da mídia que me transmite. Leio blogs, portais, enciclopédias, Twitter, e-mails, livros, revistas, gibis, bulas de remédio, etc. Meu leitor de RSS tem mais de cento e dez blogs cadastrados, que vão desde bobagens e piadas até leituras mais aprofundadas e técnicas. Meus preferidos hoje em dia são o Mental Floss (http://www.mentalfloss.com), o Men With Pens (http://menwithpens.ca) e os artigos da Cracked (http://cracked.com). Mas essa lista se renova todos os dias. Ah, um que recomendo é o Manual do Minotauro (http://verbeatblogs.org/manualdominotauro/), com as geniais tiras do Laerte. Quem quiser pode seguir meus delírios no Twitter também (@AleHeredia), pois sempre que encontro um texto que vale a pena ser lido indico lá.
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Qual dos seus livros mais movimentaram sua vida?
Todos geraram alguma comoção, de uma maneira ou de outra. A Coleção Necrópole teve uma razoável repercussão na mídia especializada, e é até hoje considerado um marco nesta nova fase da literatura nacional. Já meu conto na antologia Visões de São Paulo chegou a ser lido na íntegra no curso de Literatura Paulista ministrado na Assembléia Legislativa de São Paulo para professores e profissionais do ramo, tendo colhido diversos elogios rasgados. O Legado de Bathory me transformou numa espécie de especialista tupiniquim da história da condessa Erszebet Bathory da Hungria, apesar dessa nunca ter sido minha intenção ao escrevê-lo. Cada obra mexe com minha vida de uma maneira distinta, o que é sempre algo bem-vindo.
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Alguns escritores dizem que escrever livro é bom "pra pegar mulher"? A cada livro lançado, seu sucesso com elas aumenta? Como é isso? Como você lida com isso?
Pergunta capciosa essa, hein? Bom, lutar contra este estereótipo seria, ao menos em minha atual situação, um tanto contraproducente. Escrevi meu primeiro "livro" quando tinha 16 anos. Chamava-se "A Espada de Taranis", e nunca foi publicado. Mas isso nunca me impediu de sair por aí dizendo que eu era um escritor. E sim, funcionou algumas vezes. Quando comecei a levar essa atividade mais a sério eu era casado, e evitava que esse "mito" influísse em meu relacionamento. Mas o assédio existe, é natural e inevitável. Recebo "cantadas" de diversas garotas do Brasil inteiro, especialmente pelo Orkut, mas a maioria só quer saber de pegar um escritor e contar pras amigas, então eu não dou muita atenção (gargalhadas). Não, brincadeira. O assédio é menor do que eu gostaria e muito menor do que acham. Mas sim, eu tiro minhas casquinhas (risos).
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Ping-pong!
Cinema: Paixão.
Livros: Amor.
Internet: Muleta.
Música: Amor platônico.
Século XXI: Informação.
Família: A pedra fundamental.
Sexo: Consequência.
Amor: Saudade.
Paixão: Calorzinho bom.
Amizade: Confiança.
Casamento: Frustração.
Viagem: O Mundo.
Mulheres: Inspiração e transpiração.
Vampiros: Chatos.
Donzelas: Chatas.
Prostitutas: Uma saída de emergência degradante.
Psicopatas: Todos somos um pouco.
Diversão: Vício.
Solidão: Inevitável.
Mania: Viver.
Animais: Sou apaixonado por bichos. Especialmente gatos.
Humanos: Um mero acaso.
Deuses: Explicações simplórias para perguntas irrelevantes.
Liberdade: Essencial.
Prisão: Só as autoimpostas.
Perigo: Letargia.
Segurança: Perigosamente confortável.
Esperança: A imortalidade de minhas palavras.
Boa comida: Como de tudo.
Boa bebida: Não abro mão de um copo de Chivas ou um shot de Jack Daniel's.
Boa balada: Quando se acorda com ressaca, sem voz e destruído, mas sem parar de sorrir.


Existem dois tipos de pessoas: os predadores e as presas.

Os seres humanos, em sua infinita pretensão, se imaginam no topo da cadeia alimentar simplesmente pelo fato de poderem raciocinar e terem um polegar inversor, o que lhes permite construir máquinas para suprir suas próprias limitações. Mas o corpo humano é imperfeito. Isso está cada vez mais claro à medida que os homens criam novos aparelhos que apenas os empurram para um sofá, onde se limitam a ver o tempo passar através de uma janela eletrônica, comendo comida processada e calórica, tornando-se criaturas decadentes e flácidas, muito diferentes da imagem poética que fazem de si próprios. São apenas as engrenagens, a força motriz, sem sentido ou direção.

Mas nós, meu caro, nós operamos o mecanismo.

Nós somos predadores.


Assista o trailer de "Predadores" - indicado no BiblioFilmes Festival:
http://www.youtube.com/watch?v=yfWHK4qaLPc

"Quem é mesmo esse cara?"

Alexandre Heredia foi um dos criadores do Necrozine (http://necrozine.blogspot.com), um fanzine voltado à disseminação da literatura de terror, focada em novos e inéditos escritores nacionais. Este projeto cresceu e acabou se tornando a Coleção Necrópole, uma coletânea de contos de terror com vários autores cujo primeiro volume, Histórias de Vampiros, foi lançado em novembro de 2005 pela Editora Alaúde (http://www.alaude.com.br), na qual participa com o conto "O Edifício". O segundo volume, agora intitulado Histórias de Fantasmas, foi lançado durante a Bienal do Livro de São Paulo em março de 2006, com o conto "Catarse". No mesmo ano participou da antologia Visões de São Paulo - Ensaios Urbanos, pela recém criada Tarja Editorial (http://www.tarjaeditorial.com.br), com o elogiado conto "Vira-Latas". Em 2007 estreou no mundo dos romances com o livro O Legado de Bathory, uma aventura histórica passada na Hungria às portas da Segunda Guerra Mundial, publicado pela Editora Multifoco (http://www.editoramultifoco.com.br). Em 2008 lançou o terceiro volume da Coleção Necrópole, agora com Histórias de Bruxaria, com o conto "Cândido". No mesmo ano lançou seu segundo romance, Predadores, um intrigante suspense passado nos dias atuais, também pela Editora Multifoco.


Quer saber mais? Procure... que você acha!

sábado, 4 de julho de 2009

UM MINUTO PARA O FINAL

Vencedor do Festival do Minuto de 2009, Maurício Lídio fala sobre a produção do curta-metragem “Bárbara”, o terceiro vídeo mais exibido no Youtube Brasil em junho, onde Barbie é a protagonista.


Ideias - uma Barbie da irmã - e o apoio da família. Assim, Maurício Lídio tem dado um passo de cada vez rumo ao reconhecimento. Abordando, sem medo, assuntos delicados, ele sonha ser um renomado diretor de cinema. Vencedor do Festival do Minuto e do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, com o Troféu Grande Otelo de melhor filme de celular, pelo curta-metragem de animação “Bárbara”, o estudante de 20 anos conta para os leitores deste blog sobre seus prêmios, seus projetos e seus sonhos.




Tudo tem história! - Este é seu primeiro filme?
Maurício Lídio - Não. Na verdade já fiz alguns vídeos amadores e os coloco no YouTube (www.youtube.com/mauriciolidio). Com um deles até ganhei um prêmio antes de “Bárbara” e poucos sabem disso. Fiquei em segundo lugar no 1º Concurso de vídeos amadores da Aliança de Controle ao Tabagismo (ACTBR-SP), com a animação “Tu Fumas, Eu Morro”. Também fiz um curta-metragem para uma disciplina da faculdade (“Estocolmo?”) no qual roteirizei e dirigi. Minha irmã é a atriz principal (risos). Mais recentemente trabalhei somente como câmera no documentário de um professor da faculdade “Ibiúna 68: O Que a História Não Conta”, sobre o congresso da UNE de 1968.

Como foi o processo de filmagem? Quanto tempo foi gasto na produção de “Bárbara”?
O processo de filmagem foi bem simples, eu nem cheguei a pôr o roteiro no papel, tinha a idéia na minha cabeça e estava pronto para gravar. Minha irmã (mais uma vez) de 16 anos possui uma coleção de Barbies e me ajudou a montar o cenário. O cenário é o mesmo em todas as cenas, só os movimentava para parecer que eram outros cômodos da casa, tinha a cozinha e a sala. Dei maior atenção à iluminação e à composição da cena em si, pois o maior desafio era fazer com que minha mão, que manipulava a boneca, não aparecesse. E percebi que muitos elogios da crítica ao vídeo foram direcionados à direção de arte. A gravação durou uma tarde inteira. Filmei cerca de três minutos (o que era muito para quem queria chegar a um minuto). No processo de edição cortei aqui e ali, até chegar no tempo ideal. Então escolhi uma música de domínio público, do grande Beethoveen, e foi!

De onde surgiu a ideia do suicídio da Barbie?
Eu já queria fazer algo que não precisasse de atores de carne e osso, pois não tinha tempo e não sei se haveria interessados em trabalhar de graça nisso, então pensei em fazer uma espécie de animação com manipulação de bonecos. Pesquisando, descobri que a Barbie fazia 50 anos esse ano, então decidi que seria com ela. O problema era: o que fazer com a Barbie? Como sempre achei que ela representava um padrão de beleza e nela está a imagem da futilidade, decidi que queria matá-la, ou melhor, faria ela se matar.

Por que abordar este assunto?
Acho que essa influência mórbida com comédia veio dos filmes de Tim Burton, do qual sou fã. Pensei que poderia brincar com essa história dos 50 anos. Pensei: "Se a Barbie fosse real, como ela estaria se sentindo ao completar 50 anos? Será que as plásticas seriam suficientes?". Então fiz o vídeo criticando esse "star system" americano e o "american way of life". O Michael é um exemplo recente de tudo isso.

Você esperava ganhar este prêmio? O que você ganhou?
Eu fiz o vídeo especialmente para o Grande Prêmio Vivo do Cinema Brasileiro, que acontece há sete anos. Vários sucessos do cinema brasileiro já ganharam este prêmio, como “Cidade de Deus”. Porém, essa categoria só entrou a partir do patrocínio da empresa Vivo no ano passado. Achei uma grande ação dar oportunidade de reconhecimento para essas novas mídias que estão dominando o mercado, como o filme de celular. Voltando ao caso, tinha esperanças de ganhar, mas foi uma grande surpresa quando me ligaram dizendo que eu era finalista, e que iria para o Rio de Janeiro dali a 24 horas. Eu ganhei o Troféu Grande Otelo na categoria de melhor filme de celular, é o mesmo troféu que todos ganham, “Meu Nome Não é Johnny” e “Ensaio Sobre a Cegueira”. Além de também ganhar a passagem e a hospedagem com acompanhante no mesmo hotel em que ficaram os outros indicados, como Alice Braga e Fernando Meirelles (aos quais tive a oportunidade de conhecer).



Qual a repercussão na mídia?
A repercussão foi maravilhosa, jamais imaginaria que eu sairia nos jornais de maior circulação da Bahia, como o “A Tarde”, pois apareci na revista “Muito” que é parte integrante deste jornal. Também teve o “Correio”, com uma entrevista e uma foto com Fernando Meirelles. Também saí ao lado da Fernanda de Freitas na revista Caras. Foi ela quem me entregou o prêmio. Tomei um susto quando me vi na Caras, além de outros sites! Para você ter uma idéia, quando eu estava fazendo a clippagem dos materiais, achei aproximadamente uns 90 sites com entrevistas ou citações ao vídeo. A Vivo também me deu destaque no Vivo Blog. Outro dia estava rindo porque percebi que eu havia ganhado fama criticando a fama (risos).

Você teve medo da repercussão em relação ao tema?
Confesso que fiquei com medo da Academia Brasileira de Cinema achar um pouco trágico demais. Mas, fora isso, não senti medo. Sei que suicídio é um tema polêmico e que viriam muitas críticas negativas também. Muitas mulheres na faixa dos 50 me criticaram achando que eu quis passar a idéia de que toda mulher nos 50 deve se matar, quando jamais pensei nisso, até porque minha mãe daqui a uns anos faz 50 e não gostaria que ela se matasse. Já outras souberam tirar o lado cômico do microfilme e riram. As interpretações são múltiplas e não tenho como controlar isso, tenho apenas que saber receber as críticas. Concordar com elas já é outra história.

E com os amigos e a família? Eles esperavam que você fosse ganhar o prêmio com um assunto tão delicado, que é o suicídio?
Na verdade eles nem sabiam (risos). Quando liguei para alguns colegas para dizer que havia sido escolhido para a final eles disseram: "Como assim? Você não falou nada pra gente". Minha família sabia e me deu a maior força. Todos ficaram muito felizes, minha mãe nem se fala. Alguns acharam que era brincadeira no início. O tema foi levado pela brincadeira mesmo. Na volta, fui recebido com uma homenagem dos meus colegas da Produtora Júnior, empresa júnior de comunicação onde trabalhei por um ano na área de Projetos Culturais. Tinha um mural lá escrito "Maurício Lídio é o Vencedor do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro". Fiquei muito feliz. O pessoal da faculdade me recebeu com carinho, pois em uma Faculdade de Comunicação sempre há muitos aficionados por cinema.

“Bárbara” concorreu a outros prêmios?
Um mês depois da premiação, soube do Festival do Minuto, que já conhecia e que acontece há 10 anos, e abrangendo 30 cidades do Brasil, além de outros países. Decidi inscrever “Bárbara” para ver no que dava. E não deu outra: foi o vencedor do mês de maio como melhor vídeo das 30 cidades em que o Festival acontece e recebeu críticas de críticos de todas essas cidades, muito boas por sinal. Nesse, finalmente entrou uma graninha (risos). Ganhei o Troféu do Minuto e um valor simbólico de R$ 500,00. Agora inscrevi o vídeo no CineEsquemaNovo, um festival que aceita todas as mídias.

Pretende fazer outros filmes?
Pretendo fazer muitos filmes, pois aos 14 anos decidi que queria ser Diretor de Cinema e nada tira isso da minha cabeça até hoje. Tentei entrar em uma Faculdade de Cinema, mas aqui em Salvador só existe uma que é paga (muito cara, por sinal), então passei para a Federal da Bahia para fazer um curso muito próximo, Comunicação com Produção Cultural. Gosto muito do curso, ele só existe aqui na Bahia e no Rio de Janeiro.

O que é o cinema pra você?
Não gosto muito de classificar os filmes em cinema ou não cinema. Brigo muito com pessoas que dizem: "filmes Blockbusters não são cinema, cinema tem que ser de arte". Cinema de arte, cinema de autor, acho esses conceitos bem delicados. Prefiro acreditar que cinema é algo que nos leva a sonhar acordados, é quando o homem tem o controle de tudo, brinca de ser Deus e cria realidades.



Ping-pong!

Cinema: minha vida
Um filme: um francês que vi recentemente e que me impressionou: “Cançoes de Amor”
Um diretor: Fernando Meirelles
Brinquedo: é passado, prefiro games
Mulher: indispensável
Espelho: irrelevante
A morte: um mistério
Suicídio: fraqueza
Caos: política
Ordem: ideal
Beleza: está nos olhos de quem vê
Sucesso: uma ilusão saborosa
Sonho: ser um Diretor de Cinema renomado
Pesadelo: não realizar meus sonhos
Futuro: brilhante
Saudade: de ser criança, de não ter preocupações na cabeça
Amor: o oxigênio da vida
Pessimismo: não existe no meu dicionário
Esperança: só morre se for fraca



Maurício Lídio ao lado de Fernando Meirelles



AGORA, VEJA VOCÊ!



“Tu Fumas, Eu Morro”
http://www.youtube.com/watch?v=B_jltr57OFM