terça-feira, 10 de março de 2009

TRADUZIR-SE

Por Ferreira Gullar





Uma parte de mim

é todo mundo:

outra parte é ninguém:

fundo sem fundo.




Uma parte de mim



é multidão:



outra parte estranheza



e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.


Uma parte de mim



almoça e janta:


outra parte



se espanta.






Uma parte de mim


é permanente:


outra parte


se sabe de repente.




Uma parte de mim


é só vertigem:


outra parte,


linguagem.






Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?



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