sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Canalha!
O prazer de ser diferente

Encomendei o Canalha! na livraria Eureka (Rio Claro/SP) e esperei com ansiedade sua chegada. Quando me ligaram dizendo que a obra estava disponível, na mesma tarde fui buscar. Para comemorar, um drink de frutas da estação feito pelo amigo *Bentinho do antigo Café Capitu. O Café ainda existe, mas agora sem Bentinho, então já não é o mesmo Café.

Fabrício Carpinejar é o autor de Canalha!, uma obra de extrema sensibilidade que passou cerca de seis meses colada comigo. Se eu estivesse em algum lugar, lá estaria também o Canalha! esquentando meus pensamentos.

Com tanta paixão disponível, usufruída, grifada, citada letra a letra, lembrei do poder virtual do contato e resolvi conversar com o autor, Fabrício Carpinejar, ou Fabro – como ele se denomina. E não é que, como quase todo escritor, ele respondeu!? Sim, respondeu. O resultado disso é uma entrevista gostosa com as palavras e os pensamentos dele.

Fabrício Carpinejar é poeta, jornalista, e pai.
Uma curiosidade que vale a pena ter!

Junto com a entrevista feita por e-mail, com perguntas livres e aleatórias, recebi três fotos; em uma delas ele está de sunga. E então descobri que eu tenho uma tanga igual à sunga do Carpinejar.

Ele também tem medo, como eu, de morrer atropelado.
Seja lá como for, um dia na vida vamos morrer contrariados.



Divirtam-se! Aprendam com ele.



Parte I - Nascer e existir


Você prefere a noite ou o dia? Para quê cada um?
Manhã e noite para escrever.
Manhã porque estou tão disposto que posso me dominar.
Noite porque estou tão cansado que não vou mentir.

Acredita em astrologia?
Somente o suficiente para não desacreditá-la.

Em que horas você nasceu? Com qual peso e tamanho?
Às 14h do dia 23 de outubro de 1972, no Hospital Pompéia, em Caxias do Sul (RS).
Desconheço o peso e tamanho, acho que meu nascimento não mereceu anúncio em jornal.

Sua mãe chegou a lhe contar como foi seu parto? Como foi seu parto?
Normal. Mas fiz um longo ensaio no dia 21 de outubro. A mãe foi para o hospital, convicta do nascimento. Era seu terceiro filho. E as pontadas e o trabalho de parto ficaram adiadas. Nasci treinado. Fiz minha mãe arrumar a mala duas vezes.

Cor e clima que fazem bem para seu humor?
Praia, mar e a brisa debaixo de árvores.

Bebida que não pode faltar?
Jack Daniel's

Situação para sentir: "posso morrer agora que morro feliz"?
Nascimento de Vicente e Mariana. Mas é na maior alegria que renovamos o pacto de viver. Morrer é desistência, vou morrer contrariado.

Medo de algum tipo de morte?
Atropelado.

Carinho indispensável?
Adoro raspar a barba pelos seios. Adoro quando a boca e mão andam juntas, em sincronia.

Curiosidade: qual o número do seu sapato?
40

Qual a vantagem de uma pessoa ser considerada mais inteligente do que bonita? E vice-versa?
Não há vantagem, desse jeito é compensação.
Acredito que inteligência é beleza.

Por que as pessoas se dizem tão desinteressadas em manter um relacionamento estável?
Pelo medo tremendo de depender de alguém. As pessoas sofrem a perda antecipadamente e deixam de se entregar.

O amor está fora de moda?
O amor não é negócio.

Acredita em Deus? Tem religião?
Sim, sou católico. Meu santo padroeiro é Francisco de Assis.

Time de futebol?
Internacional. Fanático.

Pintar as unhas para não lavar a louça: essa tática ainda funciona com sua esposa mesmo depois de declarada na mídia? O que seu filho acha de ver você com as unhas pintadas de preto?
Eu estou separado, agora pinto as unhas para sempre lembrar que minha mulher foi decisiva para amadurecer e entender os outros. Meu filho curte, ele me defende. Não será preconceituoso. Temos movimentos de regente, conversamos com as sobrancelhas.

Qual a sensação de ser pai? E de ser filho depois de ser pai?
Ser pai é finalmente aceitar a intuição.
Ser filho depois de pai é entender que os conselhos não foram ordens.




Quantas horas de sono você necessita por dia?
Cinco horas. Acordar é sempre melhor do que meus sonhos.

Como são seus sonhos enquanto dorme? Algum que tenha marcado a memória?
Na adolescência, sonhei que subia uma escada de anjos. Faltavam alguns degraus, estou esperando o conserto até hoje.


Parte II - Ser escritor e escrever

Autores e autoras preferidas? Quem influenciou você na escrita?
Machado de Assis pelo humor.
Lezama Lima pela imagens.
Cesare Pavese pela melancolia.
Manuel Bandeira pela malícia e simplicidade.
Drummond pela timidez ofensiva.
Clarice Lispector pela investigação do sentimento.
Goethe pelo pensamento organizado.
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Quantos livros você tem publicado? Qual deles foi mais "dolorido" de escrever?
13 livros. O mais dolorido: "Um terno de pássaros ao sul", que abriu minha sensibilidade, rompi os diques e os pudores, deixei a memória falar pela primeira vez sem interrompê-la.

Um livro que todos deveriam ler e por quê?
Vida, Modo de Usar, de George Perec, para reparar mais nos vizinhos.

Qual a dor e a delícia de ser escritor?
Eu danço com os lábios, caminho com as mãos, deito no próprio rosto.
Escrever é alumbramento, não se acostumar com a infância.

Como você definiria o seu lado jornalista?
Teimoso, vou procurar sempre o ângulo menos conhecido de um fato.

Para quais veículos você escreve atualmente?
O Estado de S.Paulo, revista Crescer e faço uma página na Caras. Colaboro com a rádio Itapema a partir de comentários culturais e realizo entrevista com escritores na Rádio Unisinos.

Alguma matéria ou personagem que tenha mudado seu modo de ver a vida e o mundo?
Sérgio Farina, professor de São Leopoldo. Ele não era um homem, mas uma fruteira de frases.
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Você está a par das mudanças da nossa gramática? Alguma delas incomoda você enquanto escreve?
Não colocar mais o hífen em alguns vocábulos, demorei tanto para decorar as exceções.

Que tipo de erro que você mais abomina em um texto?
Arrogância.

Com a Internet, o vocabulário de muita gente está empobrecendo. Você pensa que isso tem conserto ou que está tudo perdido?
Nunca escrevemos tanto. A leitura é que enriquece o vocabulário, além de possibilitar uma maior concentração depois na conversa.

Após o reconhecimento do público, quem mais assedia você? Escritores? Poetas? Mulheres? Homens? Jornalistas?
Mulheres. Recebo um grande volume de correspondência feminina sobre as questões amorosas.
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Parte III - Canalha!

Quantos exemplares foram publicados?
Está na 2ª edição, cada tiragem com mais de 3 mil exemplares.
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Quem está na capa do livro Canalha! ?
Não revelo. Mas é parecido comigo, não?

Qual a idéia você pensou em passar com a capa? "Me joga na parede e me chama de lagartixa"?
Eu já sou a parede.

Por que Xico Sá foi o escolhido para a orelha do livro Canalha! ?
Ele é um canalha legítimo, como as havaianas.

Quais crônicas publicadas em Canalha! trazem mais orgulho para o escritor Carpinejar?
Tampinhas do leite.
Uma ode ao casamento.

Como foi o feedback da publicação? Você sentiu o mesmo estardalhaço em relação aos outros livros?
Foi explosivo, acho que toquei na crise heterossexual. Homem não entende bem qual é hoje o seu lugar - está conhecendo de perto a incerteza e com grandes possibilidades de se reinventar mais arejado, viril e emotivo.

Quem você percebe ser o público leitor de Canalha! ?
Todos. Não seleciono os amigos. Eu não me protejo para conhecer, conheço para amar.

Parte IV- PING-PONG - pá-pum!

Cinema: Tarkovski
Televisão: Sportv
Música: Tom Waits
Livro: Divina Comédia, Dante
Mulher: Emily Dickinson
Homem: John Malkovich
Cantada: Sem lugares comuns
Sexo: Pensar é aperfeiçoar o desejo.
Gafe: Esquecer nome das tias.
Família: Tudo o que aprendi.
Casamento: Tudo o que guardei.
Amor: Tudo de tudo.
Milagre: Dormir até o meio-dia.
Depressão: Só tristeza passageira.
Euforia: Por uma palavra nova.
Pele: Dormir de conchinha.
Perfume: Bulgari
Água: Guarapari
Natureza: Serra gaúcha
Cidade: Porto Alegre
Viagem: Lisboa
Desejo: Nunca terminar de começar.
Raiva: Melhor do que ódio.
Perdão: Excitante.
Deus: Abraço o vento.
Diversão: Jantar com os amigos.


Uma frase para os leitores do blog:
A esperança não é discreta.



Fabrício Carpinejar


2 comentários:

Anônimo disse...

figura esse cara. mas ao contrário dele, prefiro o velho johnnie.

Ju Furrer disse...

Gi, compartilho com vc a adoração por esse livro e esse autor.

parabéns pela entrevista! Foge do comum. É interessante e certamente consegue revelar aquilo que muitos de nós, leitores, gostarios de perguntar.

para mim a melhor resposta foi a primeira

Manhã porque estou tão disposto que posso me dominar.
Noite porque estou tão cansado que não vou mentir.

Maravilhoso né?

adorei seu blog, voltarei sempre.

bjos